O sábio Monge ensinava ao seu aprendiz os verdadeiros valores da vida e lhe deu uma missão.
Deveria encontrar duas pessoas dispostas a irem ao seu monastério contar-lhe suas histórias de vida, e depois compartilhar com os demais monges o que havia aprendido com aquela missão.
Passaram poucos anos e então o aprendiz retornou ao monastério, mas com ele veio apenas um senhor de aproximadamente 60 anos. Era alto, grisalho, com o rosto bastante conservado pelo tempo. A barba bem feita e os trajes bem limpos.
O jovem monge pediu que ele lhes contasse sua história de vida, e então o homem disse:
Chamo-me Ludwig Von Aisenhauer. Tenho 55 anos. Aos 17 entrei para a faculdade de Ciências Econômicas em Londres, e com 30 anos já era diretor do Banco Mundial. Casei-me e tive três filhas lindas: Elisabeta, Clarice e Lola. A cada uma delas eu dei uma mansão e um carro importado. Comprei casas durante toda a minha vida. Casas grandes, para habitar minha vasta família. Subi cada vez mais na empresa que pertencia a meu tio. Fui vice-presidente e cheguei a arrecadar milhões em minha conta bancária. Desfrutei de inúmeras regalias durante esses anos. Virei investidor da Bolsa de Nova York, e o lucro das ações eu usava para comprar meus tacos de Golf, que sempre foram as meninas dos meus olhos durante anos. Depois descobri a paixão pelos carros e pelos barcos, então eu decidi colecioná-los. Hoje eu coleciono também títulos públicos, e vivo em uma mansão, numa província rica no norte da Alemanha.
Os monges ficaram em silêncio, refletindo juntamente com o jovem aprendiz, quando de repente alguém bateu na porta do monastério.
Lá estava um homem de aproximadamente 30 anos. Era alto, magro, carregava uma enorme mochila nas costas. Estava cansado e aparentava ser mais velho do que realmente era, pois as marcas do tempo em seu rosto eram mais visíveis do que as do senhor que acabara de contar sua vida aos monges. O rapaz tinha a barba grande, como se estivesse por fazer, e suas roupas estavam um pouco surradas, como se ele tivesse feito uma longa viagem.
Então, vendo aquele homem, um monge ancião o indagou:
O que o traz aqui, meu senhor? Como chegou até este monastério? E percebendo o que poderia ser a chance do jovem aprendiz cumprir sua missão, disse ao homem: Conte-nos sua vida para sabermos o que o trouxe aqui.
O homem, cansado, começou a dizer:
Meu nome é Richard Remington. Tenho 26 anos e sou estudante de Psicologia. Nasci numa cidade muito pobre nos Estados Unidos. Éramos em 7 irmãos. Meu pai não tinha condições de colocar comida dentro de casa para todo mundo, e então ele tirou a própria vida num ato de desespero e depressão. Minha mãe, meus irmãos e eu moramos na rua durante muitos anos. Éramos garotos, e tivemos que aprender a comer do lixo para sobrevivermos. Alguns irmãos meus foram presos, e outros morreram nas ruas, de fome e de frio. Quando eu juntava algumas moedas, comprava inúmeros pães e levava à prisão para repartir com meus irmãos e com aqueles que ali estavam. Percorri por inúmeras cidades caminhos difíceis para tentar arrumar um emprego e sobreviver. Já cuidei de currais, já fui faxineiro e até já fui carcereiro. Eu escutava as histórias dos presos e de como eles foram parar naquelas cadeias, e imaginava que eu poderia ter passado por todos os lugares que eles estiveram antes de estarem ali, na prisão. Quando me dei conta, os anos haviam se passado e eu não conseguia mais saber onde estava o resto de minha família, então parti em busca de algo que ainda não sei o que é. Consegui comprar uma bicicleta e com ela percorri vários países, vivendo em barracos, casas de pessoas pobres e até mesmo sob as pontes. Com muito suor, consegui comprar uma passagem de avião para a Inglaterra. Vivi nos inúmeros bairros e cidades, pobres e ricas, conheci todos os tipos de cidadãos do mundo, apenas com a minha bicicleta e com a minha roupa do corpo. Depois de um longo tempo, cheguei à Londres e entrei na Faculdade de Psicologia através de uma bolsa de estudos do Governo, o qual paga a minha alimentação e moradia na Universidade. Quando eu me formar, poderei ajudar pessoas que precisam e pessoas que não tiveram aquilo que eu também não tive. Conheci um grande amigo na Universidade, chamado Rudolf Winsley, o qual tinha muitas posses e decidiu me levar em uma viagem para conhecermos as montanhas do Himalaia, mas ele não resistiu a uma febre alta e acabou morrendo em meus braços. Andei por quilômetros em busca de respostas, e foi quando avistei este monastério, lá do pé da montanha, e resolvi subir para pedir um copo de água.
Todos no monastério ficaram em silêncio, enquanto que o aprendiz se prontificava a buscar a água. O homem a bebeu e agradeceu várias vezes.
Passaram-se muitos anos, e então o sábio monge disse ao discípulo:
Sabe por que lhe enviei naquela missão? Porque meu tempo aqui na terra está acabando, e você precisará de um novo mentor para guiar sua sabedoria, por isso eu pedi que trouxesse dois homens aqui: para que pudesse ouvir duas pessoas diferentes e escolher qual deles teria sido o monge a lhe orientar. Você já sabe qual escolheria?
O aprendiz respondeu sabiamente:
Sim. Eu escolheria o jovem viajante que aqui chegou.
Sabendo que o senhor tinha o dobro da idade do jovem, e que teria vivido o dobro do tempo, o monge o indagou:
E por quê?
E o aprendiz disse:
O monge a me guiar deve ter sabedoria e conhecimento de vida. O monge mais sábio não teria sido aquele que durante a vida colecionou bens materiais e riquezas, e sim aquele que durante a vida vivenciou e colecionou as melhores experiências que soube encontrar.